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52 – Para perceber o patrimônio cultural edificado.

A expressão “patrimônio cultural” é referente a objetos materiais e imateriais. Receitas culinárias e modos de fazer exemplificam objetos imateriais. Pinturas, esculturas, arquiteturas e tecidos urbanos exemplificam objetos materiais. Há demais exemplos, sejam materiais ou imateriais. Todos, notadamente, possuem algum valor e/ou relevância cultural. Interpretações e compreensões relativas ao patrimônio cultural são passíveis de estudos, revisões, aprimoramentos, refinamentos, enriquecimentos. Objetos arquitetônicos e espaços urbanos são passíveis de interpretações diferentes ao longo dos tempos. Podem ser, ao mesmo tempo, alvo de interpretações individuais distintas. Leite (1992, p. 01) pontua que “uma paisagem modificada pelo homem não é, (...), uma paisagem antinatural, mas uma paisagem cultural que deve atender tanto a critérios funcionais quanto estéticos. Ao estudar textos que abrangem descrições e relatos sobre cidades da Antiguidade, Choay (1980, p. 59) observa que “a leitur...

51 – Sobre malhas urbanas quadriculadas.

A organização dos assentamentos humanos apresenta diferenciações conforme, ao menos, contextos geográficos e históricos. A conformação de espaços coletivos, públicos, também decorre de diferenciações. Vielas em cidades medievais, vielas em favelas brasileiras durante o século XX e ruas em cidades estadunidenses durante o século XX exemplificam espaços decorrentes de diferenciações. A racionalidade subjacente à conformação desses espaços considera esses contextos geográficos e históricos. Circunstâncias bélicas presentes durante a Idade Média são distintas das circunstâncias logísticas vivenciadas durante o século XX, as quais abrangiam práticas cotidianas de trabalho distantes das residências. Ainda que o termo “urbanismo” tenha sido cunhado durante o século XIX (CHOAY, 1980, p.3; LIMA, 2002; DEBRASSI, 2006, p. 14), a ocorrência de práticas de organização do meio urbano é perceptível desde ocasiões anteriores e em contextos geográficos diversificados. Ching e Eckler (2014, p. 38), ao...

50 – Sobre Tratados de Arquitetura e Urbanismo.

Obras literárias cujos títulos abrangem os termos “tratado”, “’tratados” e afins podem não exemplificar rigorosamente textos, escritos, manuscritos etc. cujo teor abarca suficiente e conclusivamente os domínios de conhecimento aos quais são dedicados esses textos, escritos, manuscritos etc .. Além desses termos “tratado”, “tratados” e afins, há manuais práticos, códigos, guias de manuseio etc .. Choay (1980) discorre de maneira sistemática e pormenorizada sobre textos, escritos, manuscritos etc. dedicados ao espaço construído e ao espaço a ser construído. Em face da quantidade vultosa e da diversidade de escritos sobre o espaço construído e a cidade, Choay (1980, p. 15) opta por delinear duas categorias textuais: os escritos “que veem no estabelecimento humano um projeto a realizar”, contribuindo para a produção do espaço construído e sendo denomináveis “textos realizadores”; e os escritos “que se contentam em transformá-lo (o estabelecimento humano, a saber) em tema de especulação”...

49 – Percepções arquitetônicas: forma e função.

O pensamento modernista, no âmbito da arquitetura e do urbanismo, não fica suficientemente representado pela consideração individualizada de frases e expressões sintéticas como “A forma segue a função”, “Menos é mais”, “Deus está nos detalhes”, “máquina de morar” ou outras que venham a ser explicitadas em obras literárias. Através da historiografia, é possível discernir, no que tange a esse pensamento modernista, tanto escolas diversas relativamente ao pensar e ao fazer arquitetônico quanto escolas diversas relativamente ao pensar e ao fazer pertinentes à organização das cidades. Entendo que o organicismo detectado no acervo profissional de Frank Lloyd Wright e o funcionalismo detectado no acerco profissional de Le Corbusier apresentam elementos convergentes, como a ausência de ornamentos distintos da essencialidade estrutural, e elementos divergentes, ainda que não antagônicos, como a inserção arquitetônica perante o meio urbano. Em vista das funções urbanas elementares discriminada...

48 – Entre a esfera pública e a esfera privada: alguma função social nas ruas.

Enquanto espaços públicos, ruas não se prestam unicamente à utilidade viária, ou seja, aos deslocamentos de pedestres e veículos. As ruas podem comportar formas incontroversas de mercado, se equiparando a praças e sendo “ruas de barracas”, “ruas de feiras”. Hertzberger (1991, p. 14) identifica a ocorrência de demarcações territoriais através de sequências de gradações distintas de acessos a espaços arquitetônicos. Ressaltando que são inadequados os termos “público” e “privado”, visto que há zonas intermediárias em que há “áreas chamadas semiprivadas ou semipúblicas”, esse autor observa em cidades do sul da Europa a aceitação coletiva de apropriações privadas específicas de partes das ruas (HERTZBERGER, 1991, p.16). Notadamente, esse autor se refere a essa aceitação como “uma expressão coletiva de simpatia” ( ibidem ). Em relação às interações entre o planejamento arquitetônico e o espaço público, Hertzberger (1991, p. 17) observa que a presença recorrente de pessoas em espaços públ...

47 – Fachada Ativa: a cidade em favor dos pedestres.

As setorizações funcionais decorrentes do pensamento urbanístico moderno são passíveis de debates, pois não asseguram universalizadamente aos cidadãos acessibilidades aos serviços públicos, aos serviços privados, aos bens públicos de uso comum e às demais feições do que compõe o que é denominado “cidade”. Essas acessibilidades se distinguem da acessibilidade universal incontroversamente necessária e importante à promoção da dignidade dos cidadãos. Essas acessibilidades surgem quando há algum entrelaçamento de usos simultaneamente a transportes públicos eficientes. Ainda que serviços privados sejam baseados por exclusividades recorrentemente promovidas dentre dinâmicas econômicas capitalistas e sejam direcionados a segmentos da população, os prestadores desses serviços e os demais colaboradores direta ou indiretamente relacionados à prestação desses serviços precisam acessar, alcançar, tanger as localidades em que esses serviços privados são prestados. Dentre as setorizações funcionai...

46 – Calçadas: um limiar entre a arquitetura e o urbanismo.

Os termos “calçada” e “passeio” são, recorrentemente, equiparados. Ocorre que não são sinônimos. Em linguajar curto, o “passeio” é parte da “calçada”. Conforme o Anexo I – Dos conceitos e definições – da Lei Federal nº 9503/1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro, “calçada” é a “parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, reservada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins”. Conforme esse Anexo I, “passeio” é a “parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, separada por pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas”. A presença de calçadas é obrigatória, em regra geral, em todas as vias pavimentadas das cidades, devendo ser observadas regras relativas à conformação de degraus e meios-fios e regras relativas ao rebaixamento e à conform...