45 – Breves considerações sobre as leituras da paisagem.
A organização de espaços
urbanos abrange nuances diversificadas. Premeditações e projetos exemplificam o
planejamento prévio e, ainda que minuciosos, não alcançam a integralidade
dessas nuances. Jacobs (1961, p. 456) pontua que “só super-homens conseguiriam
entender uma cidade grande por inteiro (...)”. Em adição às contribuições de
equipes técnicas, têm-se as contribuições das pessoas que habitam e vivenciam
esses espaços públicos. Lynch (1997) e Cullen (2006) se dedicam a análises da
paisagem urbana as quais consideram percepções surgidas ao longo das vivências
das pessoas.
Delineada por Lynch (1997), a
análise perceptiva cuida da identificação de elementos que integram a paisagem
urbana, havendo 05 (cinco) qualificações desses elementos: vias, limites,
bairros, pontos nodais e marcos. Sinteticamente: vias dão suporte à circulação
habitual e/ou ocasional de pessoas; limites ocasionam distinções entre regiões
urbanas; bairros exemplificam regiões que possuem características comuns;
pontos nodais são lugares que articulam percursos de pedestres; e marcos são
objetos tidos por pedestres como referências físicas, geográficas. Ainda que
não seja possível detectar in loco a ocorrência simultânea de exemplares dessas
05 (cinco) qualificações, é incontroverso o reconhecimento de que essas
qualificações não ocorrem isoladamente. Há, nas cidades, a presença entrelaçada
dessas qualificações.
Delineada por Cullen (2006), a
análise visual cuida de 03 (três) aspectos os quais ensejam compreensões acerca
dos impactos emocionais e/ou subjetivos processados pelas pessoas em vista das
paisagens urbanas: o aspecto óptico, o aspecto local e o aspecto referente ao
conteúdo dessas paisagens. Sinteticamente: o aspecto óptico cuida das
percepções sequencias decorrentes da movimentação de pessoas pelos espaços
urbanos; o aspecto local cuida das apropriações espaciais feitas pelas pessoas
e do senso de localização construído por elas; e o aspecto referente ao conteúdo
dessas paisagens abrange discriminações do que constitui os espaços urbanos,
como cores, texturas, porte ou escala de objetos arquitetônicos e/ou urbanos e,
mesmo, composições plásticas desses objetos.
Sousa et al.
(2012) e Freire (s/d) apresentam exemplos de aplicações metodologicamente
organizadas dessas análises perceptiva e visual. Lopes e Rocha (2012) se
dedicam ao estudo e à compreensão da análise visual. Zevi (1984, p. 120) ressalta
a relevância do século XIX, caso fosse desenvolvida, similarmente à obra “Saber
ver a arquitetura”, uma obra denominada “Saber ver a urbanística”. Estimo que
as análises delineadas por Lynch (1997) e Cullen (2006) também sejam dignas de
relevância, pois ocasionam a detecção de nuances da organização de espaços
urbanos que não são rigorosamente pormenorizadas pelas predições do planejamento
urbano.
Referências bibliográficas:
CULLEN, G.. Paisagem Urbana. Lisboa:
Edições 70, 2006.
FREIRE, F.. A metodologia de Kevin Lynch no processo de
construção da imagem da cidade: elementos da paisagem urbana. [20--].
JACOBS, J.. Morte e vida de grandes cidades. 1.
ed., 1961. Trad. Carlos S. M. Rosa. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 499 p.
Título original em inglês: The Death em
Life of Great Ameriacans Cities.
LYNCH, K.. A imagem da cidade. São
Paulo: Martins Fontes, 1997.
LOPES, R.; ROCHA, J.. Paisagem urbana de Gordon Cullen: uma
leitura atualizada em Niterói-RJ. IN XII Seminario Internacional
de Investigación en Urbanismo, São Paulo-Lisboa, 2020. Faculdade de
Arquitetura da Universidade de Lisboa, 2020.
SOUSA, L. et al. Análise da paisagem urbana de um
município de pequeno porte. IN: III Simpósio de Pós Graduação em
Engenharia Urbana. 2012.
ZEVI,
B.. Saber ver a arquitetura. 1. ed., 1984. Trad. Maria Isabel Gaspar,
Gaëtan Martins de Oliveira. 6. ed. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2009. 286 p.
Título original em italiano: Saper Vedere L’architettura.