Postagens

Mostrando postagens de junho, 2025

48 – Entre a esfera pública e a esfera privada: alguma função social nas ruas.

Enquanto espaços públicos, ruas não se prestam unicamente à utilidade viária, ou seja, aos deslocamentos de pedestres e veículos. As ruas podem comportar formas incontroversas de mercado, se equiparando a praças e sendo “ruas de barracas”, “ruas de feiras”. Hertzberger (1991, p. 14) identifica a ocorrência de demarcações territoriais através de sequências de gradações distintas de acessos a espaços arquitetônicos. Ressaltando que são inadequados os termos “público” e “privado”, visto que há zonas intermediárias em que há “áreas chamadas semiprivadas ou semipúblicas”, esse autor observa em cidades do sul da Europa a aceitação coletiva de apropriações privadas específicas de partes das ruas (HERTZBERGER, 1991, p.16). Notadamente, esse autor se refere a essa aceitação como “uma expressão coletiva de simpatia” ( ibidem ). Em relação às interações entre o planejamento arquitetônico e o espaço público, Hertzberger (1991, p. 17) observa que a presença recorrente de pessoas em espaços públ...

47 – Fachada Ativa: a cidade em favor dos pedestres.

As setorizações funcionais decorrentes do pensamento urbanístico moderno são passíveis de debates, pois não asseguram universalizadamente aos cidadãos acessibilidades aos serviços públicos, aos serviços privados, aos bens públicos de uso comum e às demais feições do que compõe o que é denominado “cidade”. Essas acessibilidades se distinguem da acessibilidade universal incontroversamente necessária e importante à promoção da dignidade dos cidadãos. Essas acessibilidades surgem quando há algum entrelaçamento de usos simultaneamente a transportes públicos eficientes. Ainda que serviços privados sejam baseados por exclusividades recorrentemente promovidas dentre dinâmicas econômicas capitalistas e sejam direcionados a segmentos da população, os prestadores desses serviços e os demais colaboradores direta ou indiretamente relacionados à prestação desses serviços precisam acessar, alcançar, tanger as localidades em que esses serviços privados são prestados. Dentre as setorizações funcionai...

46 – Calçadas: um limiar entre a arquitetura e o urbanismo.

Os termos “calçada” e “passeio” são, recorrentemente, equiparados. Ocorre que não são sinônimos. Em linguajar curto, o “passeio” é parte da “calçada”. Conforme o Anexo I – Dos conceitos e definições – da Lei Federal nº 9503/1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro, “calçada” é a “parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, reservada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins”. Conforme esse Anexo I, “passeio” é a “parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, separada por pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas”. A presença de calçadas é obrigatória, em regra geral, em todas as vias pavimentadas das cidades, devendo ser observadas regras relativas à conformação de degraus e meios-fios e regras relativas ao rebaixamento e à conform...

45 – Breves considerações sobre as leituras da paisagem.

A organização de espaços urbanos abrange nuances diversificadas. Premeditações e projetos exemplificam o planejamento prévio e, ainda que minuciosos, não alcançam a integralidade dessas nuances. Jacobs (1961, p. 456) pontua que “só super-homens conseguiriam entender uma cidade grande por inteiro (...)”. Em adição às contribuições de equipes técnicas, têm-se as contribuições das pessoas que habitam e vivenciam esses espaços públicos. Lynch (1997) e Cullen (2006) se dedicam a análises da paisagem urbana as quais consideram percepções surgidas ao longo das vivências das pessoas. Delineada por Lynch (1997), a análise perceptiva cuida da identificação de elementos que integram a paisagem urbana, havendo 05 (cinco) qualificações desses elementos: vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos. Sinteticamente: vias dão suporte à circulação habitual e/ou ocasional de pessoas; limites ocasionam distinções entre regiões urbanas; bairros exemplificam regiões que possuem características comuns; ...