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Mostrando postagens de dezembro, 2024

22 – Notas sobre a habitação urbana.

A habitação pode ser comercializada. Em linguajar amplo, compras e vendas, aluguéis, arrendamentos, usufrutos, comodatos etc. são regimes de relações entre pessoas os quais podem ter como objeto a habitação. Historicamente reconhecida, a industrialização havida durante os séculos XIX e XX ocasionou processos de urbanização que racionalizaram configurações e localizações de habitações em subordinação à organização espacial de cadeias produtivas. Percebo que essa subordinação não abrangeu cuidados suficientemente pertinentes às condições de habitabilidade e salubridade, o que ocasionou ações e reações em diversos domínios e esferas das sociedades. Benevolo (1967, p.43) relata, em relação às observações de Engels acerca de características de ambientes urbanos pré-industriais e acerca da cidade industrial, que “Engels descreve os casos piores e não a média”, sendo “sua recolha de situações-limite justificada na medida em que a opinião pública já não as considera admissíveis, independente...

21 – Das monofuncionalidades da Cidade à habitabilidade arquitetônica dos espaços públicos urbanos.

Elaborado durante a década de 1930, o documento “A Carta de Atenas” discorre sobre características das cidades e, discriminando as funções “habitação”, “lazer”, “trabalho” e “circulação”, enuncia que essas as 3 (três) primeiras são as funções fundamentais a serem articuladas por meio dessa última função, a qual fica espacializada por um sistema de circulação premeditado. Dentre os termos desse documento, que consiste num manifesto desenvolvido no âmbito do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), reconheceu-se que “à medida milenar, (...), a velocidade do passo humano, somou-se uma medida em plena evolução, a velocidade dos veículos mecânicos”. Primando pelo cumprimento dessas funções elementares, considerou-se, no âmbito desse manifesto, que as ruas devem ser hierarquizadas e distinguidas conforme finalidades próprias, de maneira a ser maximizada a eficiência da circulação de pessoas mediante veículos e minimizados os impactos do trânsito desses veículos em residênc...

20 – Breves considerações sobre os princípios funcionalistas do urbanismo moderno.

Em sequência aos estudos e projetos desenvolvidos por Ildefonso Cerdà no século XIX, arquitetos e urbanistas debateram, durante a primeira metade do século XX, a organização das cidades. Na Europa, foram realizados congressos em que foram difundidas ideias racionalistas acerca de arranjos espaciais e acerca da construção dos edifícios, das casas e dos sistemas viários componentes desses arranjos. Essas ideias consideraram métodos construtivos racionalizados e industrializados, de maneira a serem viabilizadas concepções e produções funcionalistas e quantitativamente expressivas. Os arranjos espaciais urbanos, idealmente, ficaram balizados pelas funções: habitação ou moradia; trabalho ou produção; recreação, repouso ou lazer e; circulação, a qual conecta localidades referentes às demais funções. A setorização dessas funções não abrangia sobreposições. A racionalidade funcionalista, desconsiderando a multiplicidade e a simultaneidade das ações e das dinâmicas recorrentes no cotidiano urba...

19 – Faces da cidade: formal; oficial; legal; informal, clandestina, ilegal.

As cidades são materializadas através de ações diversas feitas por pessoas diversas. Ações entrelaçadas, sobrepostas, convergentes, divergentes, subsequentes, contraditórias. Zevi (1984, p. 222) expõe que estudos sobre as cidades e o território urbano devem ser subsidiados pela “definição clara do significado da arquitetura chamada ‘menor’, secundária, criada sem ajuda de arquitetos”. Observo que o emprego desse termo “menor” é passível de debates, pois estimo que a arquitetura criada sem a ajuda de arquitetos seja mais numerosa que aquela criada com a ajuda de arquitetos. Não raro, são realizados, no Brasil, acréscimos edilícios às arquiteturas formalmente materializadas. Barracões, “puxados”, “puxadinhos”, “quartinhos”, espaços gourmet e quiosques são exemplos desses acréscimos. Entendo que distinções entre a arquitetura criada com a ajuda de arquitetos e arquitetura sem a ajuda podem ficar subordinadas às distinções entre a arquitetura que compõe a cidade formalmente materializad...